quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Solteirice

Ser solteira é bom. Depois de longos namoros, me mantenho nesse estado civil há algum tempo. Claro que, durante esses anos, passei por várias fases, desde a busca incessante por um amor até a luta constante pelo não-amor. A verdade é que o bem-estar com o estado civil depende exclusivamente do bom estado do seu psicológico. Quando nada dá certo, a falta de alguém passa a ser um castigo. Mas, quando tudo vai bem, o amor parece ser só mais uma boa expectativa em relação ao futuro.

Esse modo de encarar as coisas talvez seja o grande fracasso da vida. Precisamos aprender a separar o joio do trigo. Uma frustração aqui não pode se alastrar para todas as áreas! Se não, fudeu! (Desculpa o palavreado). Se o emprego está ruim, a família está brigada e a conta bancária está no zero, chorar pela falta de um namorado não vai ajudar em nada! Porque não conseguimos manter a mesma serenidade que temos quando tudo está bem? Querer um namorado não pode se tornar missão de vida. Se não, passamos a aceitar qualquer coisa (literalmente) em troca da promessa de um compromisso.

Nós mulheres fomos programadas para amar (de preferência uma única vez na vida), despertar a paixão, casar e ter filhos. E, por isso, tenho escutado o alarme do meu relógio biológico. Não porque eu acho que está na hora ou porque cheguei em um momento de conquistas que me levam a esse passo, mas simplesmente porque todos a minha volta estão namorando e eu não (e nem sei se quero, neste momento). Nunca imaginei que isso seria motivo de cobrança, por isso comecei a me questionar sobre o assunto. Afinal, para mim, ser solteira não significa estar só, mas sim, solta. Solta do querer do outro, da custódia, dos desejos e anseios alheios. 

Acredito que estar solteira seja um momento sabático, quase divino, no qual temos tempo e oportunidade de nos conhecer, sem amarras ou obrigações. É o momento de nos recompor. Analisar os nossos defeitos, perceber onde erramos, o que buscamos, e, o mais importante, aprender a nos amar e nos respeitar. Porque, muitas vezes, passamos por cima dos nossos desejos e orgulho pelo "bem" de uma relação (usei as aspas porque, se uma relação precisa disso para ser boa, não pode fazer bem a ninguém!) e, nessa correira e emenda de namoros, nos esquecemos de perceber quem somos e deixamos de nos conhecer e de nos completar.

Mais do que ter liberdade de ir e vir, de dizer e de fazer, ser solteira é ter a oportunidade de aprender a ser inteira. Por isso, não acho que a solteirice deva ser um estado, mas sim uma permanência. Devemos nos manter solteiros mesmo quando casados. Afinal, ninguém quer alguém pela metade nem quer ter a obrigação de completar. Bom mesmo é ser inteiro e achar outro inteiro para somar!

Por isso, decidi desligar o meu alarme e não apenas ativar a função soneca. Porque se o relógio biológico é meu, ele tem que respeitar o meu tempo. E, graças a Deus, ainda tenho muito tempo pela frente. 

"Sou solto em qualquer lugar..."


4 comentários:

  1. Engraçado, que em cada post seu que eu leio, me vejo em cada fase...estranho isso, muito estranho...pq faz todo sentido quando você diz: "ser solteira é ter a oportunidade de aprender a ser inteira. Por isso, não acho que a solteirice deva ser um estado, mas sim uma permanência. Devemos nos manter solteiros mesmo quando casados. Afinal, ninguém quer alguém pela metade nem quer ter a obrigação de completar. Bom mesmo é ser inteiro e achar outro inteiro para somar!"

    Estou exatamente nesse momento, me descobrindo que posso ser inteira, e quem sabe não me esbarro em "outro inteiro".

    Beijos, não pare de escrever.
    Daniela

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  2. Adoro saber que você continua lendo e que estamos no mesmo momento! :)
    Que consigamos ser inteiras, sempre!

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  3. Dani, leio com atenção todos os seus artigos, os quais considero leves, inteligentes, descontraidos e muitas vezes engraçados. Talvez o meu perfil não seja o mais indicado para analisar o comportamento das mulheres no contexto que vc coloca, e isto as vezes pode suscitar interpretações equivocadas. Mas, me chamou atenção uma afirmação que pincei do texto "quando nada dá certo a falta de alguem passa a ser um castigo"! Entendo que também quando estamos com alguém e nada dá certo, o castigo é exatamente o mesmo! Depreendi também que há uma sutil apologia - egoísta, diga-se de passagem - a e exacerbação a individualidade. Enfim, sao apenas observações desprovidas de caráter crítico de um especialista , mas de um olhar curioso sobre o imaginário feminino! Continue escrevendo, sou seu humilde e invejoso leitor que gostaria de escrever com a sua sensibilidade de escritora. Bj
    Mário

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  4. Acho ótimo saber das outras percepções, Mario! :)

    Minha intenção foi sim ressaltar um pouco o individualismo, mas não o egoísmo. Porque tenho visto muitas pessoas que se anulam em função do outro(eu mesma já fiz isso)e acho que o "ideal" é a soma e não a subtração. De modo que você tem q se conhecer para saber em que pode ceder, o que pode oferecer para o outro. E o mais importante, acredito que é fundamental estar bem consigo para ter a chance de se dar bem com o outro. Por isso considero a consciência individual importante nas relações.

    E concordo demais qdo vc diz que "quando estamos com alguém e nada dá certo, o castigo é exatamente o mesmo!". Temos que aprender a não minar o que pode ser bom com o que está ruim, né?

    Bjão e continue lendo! ;)

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