domingo, 18 de novembro de 2012

Sessão de Terapia

Nenhuma dor é tão grande quanto à dor do autoconhecimento. (Essa frase poderia ser de um grande autor. Na verdade, talvez até seja, mas tive preguiça de procurar).

Faço terapia há mais de dez anos e sei bem do que estou falando. Reconhecer nossos erros, fracassos e fraquezas é mais dolorido que bater o dedinho do pé na quina da cama. Dói mais que um pé na bunda ou uma desilusão amorosa. Dói tanto porque você não tem em quem colocar a culpa. Toda a culpa é sua, toda e exclusivamente sua! Não há desculpas, circunstâncias ou pessoas que possam dividir a cruz com você. Saber quem somos implica em assumirmos toda a responsabilidade pelo o que fazemos ou deixamos de fazer. E isso dói!

Dói ver nossas imperfeições, nossa feiura. Dói descobrir nossas reais intenções, nossos desejos mais ocultos. Dói ver e rever nossos erros, nossos nós. Dói ter consciência e ciência. E a partir do momento em que sabemos o porquê, assumimos um compromisso de mudar o como.

Mas por mais doloroso que seja, nunca entendi muito bem as pessoas que dizem que não precisam de terapia. Acho que essa constatação vem seguida de um certo tom de superioridade, como se elas estivessem mostrando um atestado de não-loucura, uma prova de perfeição. Fazer terapia não é fácil, mas continuar na negação é mais difícil! A dor existe, mas vem com uma promessa de alívio. Porque só quem fez análise e conseguiu mudar uma atitude, por menor que seja, sabe o gosto bom que isso tem! 

E todo o processo só cabe a nós mesmos. Para quem assiste fica apenas o julgamento fácil, o questionamento egoísta, a sabedoria sem fundamento. Pois só quem se dispõe a se conhecer sabe a dificuldade que é se aceitar. 

Outro dia sonhei com minha ex-terapeuta. Ela precisava amputar o meu pé e não podia me dar anestesia. Minha mãe se deitava ao meu lado na maca para tentar dividir a dor comigo. No começo não senti nada. Olhava para minha perna e via meu osso exposto, roxo, cheio de sangue. Mas não havia dor, nem choro, nem grito. Até o momento em que ela começou a cortar meus dedos. A cada dedinho eu sentia uma dor insuportável! E ela ia cortando, um por um. De repente fui obrigada a deixar a sala de cirurgia. Saí e fui dar uma volta sem meus dois dedos do pé. Aquilo doía em mim de maneira real. Eu andava mancando e seguindo minha mãe pelas escadas. Quando voltei ao bloco cirúrgico fui informada que eu não poderia terminar a amputação naquele dia, pois os superiores tinham solicitado a sala para uma emergência. Voltei para casa, ainda com o pé, que estava parcialmente completo.

Nunca fui boa em análise de sonhos, mas, talvez, fazer terapia seja mesmo como uma amputação. Uma operação dolorosa, mas necessária. Você descobre onde tá o machucado, olha para a doença sob uma outra perspectiva e se arrisca a cortar os pedaços que podem te matar. Uma dor passageira que pode curar um sofrimento eterna. 

Por isso, não me julgue se meu "avanço" é lento ou se as minhas mudanças não te agradam. Pelo menos eu estou aqui, tentando amputar a minha dor. Não fugi nem desisti. Aceitei o processo, conheci partes minhas obscuras, me vi por dentro e me achei feia. Mas estou disposta a fazer os reparos necessários e sei que algumas coisas já mudaram. Mas também sei que ainda faltam outros três dedos para serem cortados!

Sessão de Terapia


3 comentários:

  1. Daniela,
    Como pode???
    Fico meses sem entrar aqui, e independente da circustância que eu procure um novo post aqui, tudo que eu encontro é muitos dos processos que eu tenho vivido... diferente de você faço terapia há mais de um ano, e a fase que me encontro hoje na terapia é exatamente esse: tá doendo muito, tô vendo as minhas feiuras, e pensei muitas vezes o quanto isso estava me valendo, e ao ler seu último parágrafo pude ter uma nova percepção sobre esse mergulhar em mim..."estou disposta a fazer os reparos necessários..."

    Um beijo e continue escrevendo, é bom saber que existem mais pessoas que caminharm para o auto-conhecimento.

    Daniela.

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  2. "Fazer terapia não é fácil, mas continuar na negação é mais difícil!" -> minha terapeuta disse hoje que permanecer onde está, por mais que seja dolorido (ou doloroso), é cômodo. E esse comodismo não podemos nos dar ao luxo

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  3. "Fazer terapia não é fácil, mas continuar na negação é mais difícil!" -> minha terapeuta disse hoje que permanecer onde está, por mais que seja dolorido (ou doloroso), é cômodo. E esse comodismo não podemos nos dar ao luxo

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